por Sarita Borelli*
O absurdismo ronda por aí com seus espectros sádicos.
Um prédio cai no centro da cidade e muitas pessoas perdem o que já não possuem.
Um preso político em regime democrático.
Uma mulher morre porque tem voz.
Uma proposta política de governo fascista.
E, no meio de tudo isso, uma copa do mundo, uma nova eleição e uma nova fonte de otimismo.
Nem esses espectros, estranhas figuras cruéis, fiéis representantes do absurdo, são capazes de nos colocar tanto à prova que nos tirem o prazer de acreditar em mudanças.
Deveriam, mas não o fazem.
Será que somos cativos de uma força que cega e arrebata para a ilusão de que haverá, além da arrebentação, uma nova terra idílica, dessas que aparecem em livros quando apresentam o novo mundo descoberto?
Enquanto isso, os espectros, maléficas criaturas, vagam sem misericórdia nas ruas que habitamos.
*Sarita Borelli é pós-graduada em Design Editorial pelo Senac, graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, designer, editora responsável pela Editora Gota e idealizadora da Revista Aluvião.