Carmen de Burgos por Julio Romero de Torres, 1917. Óleo e têmpera sobre tela. 60 x 60 cm.
por Sarita Borelli*
A esposa
Em uma manhã pouco tumultuada, buscava outra escritora para apresentar aos leitores da Aluvião. Procurava uma mulher, é claro, latina por excelência e por escolha dialógica, que pudesse ser traduzida em nossa língua pátria.
Pois bem, consultando a Biblioteca Digital Hispánica[1], dentre uma lista gigantesca de nomes de autores – consagrados ou não, lembrados ou não – dei conta da recorrente ação de garimpo que é a busca por mulheres autoras em domínio público. O que me fez lembrar do filme que assisti, A esposa, cuja personagem principal é interpretada por Glenn Close, que recebeu indicação ao Óscar de melhor atriz em 2019.
Esse filme narra de forma envolvente a história de um autor de literatura, agraciado com o prêmio Nobel, e de sua esposa. Não pretendo esmiuçar o enredo do filme, nem a incrível atuação da atriz principal, porém, a quem o assistiu ou a quem possa assisti-lo deixo uma pergunta: quantas mulheres mais poderiam estar em listas como essas que hoje consulto?
A recorrência
Como li uma vez em Beatriz Sarlo[2], as revistas atuam no presente, enquanto os livros a médio e longo prazo. Assim, parte da atuação da Aluvião é dar espaço e voz às mulheres escritoras, tanto as contemporâneas quanto as que já estão em domínio público. A mesma intenção tem observado no movimento atual de leitura e retomada de muitas autoras esquecidas.
É preciso também mencionar que, já em 1995, a Editora Mulheres[3], das professoras Zahidé Muzart, Susana Funck e Elvira Sponholz, teve a iniciativa de publicar temas relacionados à mulher e ao feminismo, além de resgatar escritoras brasileiras esquecidas, como na publicação em três volumes da antologia Escritoras brasileiras do século XIX.
Voltando aos garimpos, descobri, por um acaso, a espanhola Carmen de Burgos (1867-1932). Carmen foi jornalista, escritora, tradutora e ativista dos direitos da mulher. Outra pessoa incrível de quem nunca tinha ouvido falar e que, aparentemente, nem os espanhóis ouviram[4]. O impressionante dessa história é que já li alguns autores do entorno de Carmen, como seu próprio companheiro, Ramón Gómez de la Serna. Não menos impressionante é a recorrência de me deparar com autoras fortes, ativistas, à frente de seu tempo.
Vamos ver o que resulta desse encontro!
*Sarita Borelli é pós-graduada em design editorial, graduada em letras e editora de livros.
Sobre Carmen de Burgos, ver:
https://www.yorokobu.es/carmen-de-burgos/
[1] BIBLIOTECA DIGITAL HISPÁNICA. Disponível em: <http://www.bne.es/es/Catalogos/BibliotecaDigitalHispanica/Inicio/index.html>. Acesso em: 22 fev. 2019.
[2] SARLO, Beatriz. “Intelectuales y Revistas: Razones de una Practica”. In: Le discours culturales dans les revues latino-américanes de 1940-1970.Université de la Sorbonne Nouvelle-París III, París, 1990. pp 9-15.
[3] Mais informações sobre a Editora Mulheres, ler: O gênero, a importância e o papel de uma Editora chamada Mulheres. Disponível em: <http://www.nonada.com.br/2016/01/o-genero-a-importancia-e-o-papel-de-uma-editora-chamada-mulheres/>. Acesso em: 22 fev. 2019.
[4] MARCOS, Mónica Zaz. No conoces a la primera mujer periodista por culpa de Franco, y deberías. Disponível em: <https://www.eldiario.es/cultura/libros/Carmen-Burgos-periodista-Franco_0_715328709.html>. Acesso em: 22 fev. 2019.