Gente com fome

Foto em preto e branco de trem da CPTM avançando frontalmente, com muitos cabos de rede elétrica ao fundo.
Imagem: Núcleo Editorial, CC BY 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/2.0>, via Wikimedia Commons

por Felipe Sanches*

Já dizia Solano Trindade[1], tem gente com fome[2]. Infelizmente, há muita gente nessa situação, atualmente, no Brasil. Mais de 33 milhões de pessoas[3], segundo estimativas recentes. Basta caminhar pelas ruas em grandes cidades para constatar que a quantidade de pessoas em situação de rua aumentou, assim como as que pedem dinheiro e comida. Pessoas que, em sua maioria, assim como Solano Trindade, são negras, e, diferentemente dele, mulheres[4].

A sociedade brasileira é, essencial e estruturalmente, racista, misógina e machista, assim como homofóbica, transfóbica, aporofóbica e enferma de mais um sem-número de preconceitos enraizados desde os tempos de exploração colonial europeia. Reconhecer-se tal como descrita acima é o grande desafio no qual precisamos, enquanto sociedade, nos engajar, a fim de darmos o primeiro passo para uma transformação necessária.

Neste número 8, Aluvião traz leituras poéticas ao redor do tema “O reflexo do abismo”, além de um especial sobre meio ambiente. Ao todo, são 13 textos, e neles vamos versar e prosear sobre o abismo em que o Brasil se meteu. Ou, talvez, apenas refletir sobre o mesmo abismo descrito nos trilhos do “trem sujo da Leopoldina”, de Solano Trindade. O Brasil da fome, da distopia contemporânea, de “tantas caras tristes”, cujo destino, “algum lugar”, por vezes é simplesmente a desolação e a morte. Dos abismados brasileiros que sentem o “freio de ar, todo autoritário”, que “manda o trem calar”. O mesmo Brasil que não pode se calar diante do abismo.

*Felipe Sanches é pós-graduado em Cinema e linguagem audiovisual, graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo, poeta, editor de livros didáticos, colaborador de publicações da Editora Gota e coidealizador da Revista Aluvião.

[1] Recifense, viveu entre 1908 e 1974. Folclorista, poeta, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante do Movimento Negro e do Partido Comunista.

[2] Ler o poema em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/caderno_virtual/texto/tem-gente-com-fome/index.html. Acesso em: 2 ago. 2022.

[3] Ver mais em: https://www.oxfam.org.br/noticias/fome-avanca-no-brasil-em-2022-e-atinge-331-milhoes-de-pessoas/. Acesso em: 2 ago. 2022.

[4] Ver mais em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/09/17/pesquisa-seguranca-alimentar-brasil-ibge.htm. Além disso, para se aprofundar nos dados referentes à fome no Brasil, recomenda-se a leitura de RIBEIRO JÚNIOR; José R. S. [et al]. Atlas das situações alimentares no Brasil: a disponibilidade domiciliar de alimentos e a fome no Brasil contemporâneo. Bragança Paulista: Universidade São Francisco, 2021. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/356617325_Atlas_das_situacoes_alimentares_no_Brasil_a_disponibilidade_domiciliar_de_alimentos_e_a_fome_no_Brasil_contemporaneo. Acesso em: 2 ago. 2022.

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