por Roberto Lopes*
A palavra “grande” tem caráter comparativo e relativo. Só é possível dizer que algo é grande comparando-se o tamanho de dois ou mais elementos. Já “conjunto de dados” é uma expressão de caráter absoluto e pleno. Um ou infinitos dados são um conjunto de dados. Do ponto de vista matemático, até nenhum dado é um conjunto de dados; nulo, porém conjunto.
O termo big data está em voga, refere-se ao atual grande conjunto complexo de dados fornecidos, capturados, armazenados, processados e analisados. Esses dados são todas as informações que existem interligadas entre si através de redes de computadores. É sempre grande e não apenas um conjunto, porque o big data de hoje será ultrapassado em tamanho pelo big data de amanhã, aquele tornando-se apenas uma parte deste. Esse movimento é uma iteração, o big data atual é resultante do big data que o precedeu; assim, é possível dizer que “grande”, nesse caso, tem caráter absolutamente pleno. A complexidade desse conjunto se atribui ao seu volume; aparatos tradicionais de processamento de dados, como o cérebro humano ou computadores e softwares padrões, são incapazes de lidar com tanta informação.
As aplicações envolvendo big data abrangem um espectro gigantesco. Analisar todas as compras feitas num supermercado pode resultar num preciso controle de estoque, evitando-se desperdícios e prejuízo. Mapear o número de vezes que a palavra “demissão” e suas variáveis foi escrita no WhatsApp pode prever uma crise econômica, assim como computar as buscas no Google pela expressão “sintomas de febre amarela” pode prever uma epidemia. Estratégias políticas que utilizam big data nas redes sociais podem vencer uma eleição. Esses e outros exemplos são extraordinários, mas todos eles têm algo incômodo em comum: violação de privacidade. Se o inciso X do artigo 5º da Constituição Federal de 19881 estivesse sendo respeitado, o número de crimes contra a privacidade das pessoas aumentaria significativamente.
Qual é o télos2 do big data? Ele pode evitar desperdícios, melhorar o trânsito, suprir demandas, prever crises econômicas e epidemias, mas pode também escancarar as chamadas “informações de identificação pessoal”. Apesar de conter a palavra “informações”, a expressão se refere a um conceito legal, ou seja, legislativo, e não a um conceito tecnológico. Através de informações desse tipo é possível cometer crimes como assassinato, roubo, furto, cooptação, violação de proteção a testemunhas e afins. Nesse cenário, cabe uma questão: a postura da sociedade em relação ao big data deve ser de tolerância ou intolerância? O extremismo nunca é solução e, como toda boa questão, é preciso achar um equilíbrio.
*Roberto Lopes é graduado em matemática e editor de livros didáticos. E-mail: betovisk85@gmail.com
- São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. ↵
- Télos é um termo filosófico que se refere ao propósito de algo. É a raiz de “teleologia”, estudo dos objetivos e finalidades de todas as coisas do Universo. ↵