por Felipe Sanches*
Era 29 de maio de 1997. Aquela noite, aquela gente, aquela conversa. O ensurdecedor tilintar das taças, aqueles velhos sorrisos e o som dos talheres. Antes fosse mera misofonia.
Melina estava farta de tudo aquilo muito antes de sentar-se à mesa.
Anton Fischer, 60 anos, era um homem austero, rústico, inflexível e, desde que um tumor pulmonar levou Antonieta, 3 anos antes, muito infeliz. Não se conformava que Antonieta, segunda esposa e 15 anos mais jovem, tenha gozado de uma existência terrena tão breve. Certamente, também não previa a solidão para o resto de seus dias.
Quando se deu conta, tanto Maia quanto Melina já haviam se revelado fortes e independentes. Maia, a primogênita, já havia tomado rumo. Distante, aliás, e definitivo.
Somente 3 meses após aquele fatídico aniversário de 16 anos, soube-se que ela residia em Tóquio, e estava bem. As roupas do corpo bastaram para que iniciasse uma nova fase longe de casa.
Diferentemente de Melina, Maia já entedia muito bem o encadeamento de fatos que leva a grandes mudanças. E as consequências dessas reviravoltas. Contudo, seu legado foi de grande importância para a pequena irmã, que, exatamente 3 anos depois, e aos 14 anos de idade, decidiu ganhar a vida. Era 29 de maio de 1997, feriado de Corpus Christi.
*Felipe Sanches é graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo, poeta, editor de livros didáticos, colaborador de publicações da Editora Gota e coidealizador da Revista Aluvião.