por Maria Ribeiro*
Como mulheres, já tanto nos é negado. Tanto nos é imposto. Tanto nos é ditado. Nosso espaço na vida é contabilizado; cada centímetro parece custar muito caro. E todos querem nos dar um espaço que não nos cabe. Nós não cabemos nesse molde. É um molde feito pra ninguém. Um molde especialmente desenhado para passarmos a vida sofrendo, para nos encaixar naquele gesso que não foi feito para nos acolher. Nem eu, nem você, nem nenhuma mulher.
E quem dita o espaço que ocupamos na vida? Quem dita o tamanho de nossas almas? O tamanho de nossas lutas, de nossas histórias, de nossas conquistas? A sociedade está muito acostumada a nos julgar. O tempo todo. O tempo inteiro. Nunca tá bom. Nada tá bom. Nunca.
Aquela mulher que todos desejam. Ao mesmo tempo que nos diminuem, nos iludem, nos viciam no modelo da mulher ideal. Aquele modelo que não cabe ninguém.
Passamos a vida tentando encolher nosso corpo. Magras. Magérrimas, esse é o objetivo. Encolher nossas palavras. Recatada, educada, amável. Sempre condizente. Reprimir nossas emoções, nossas paixões, nossas tristezas. Sempre equilibrada, sempre bem-comportada. Assim é que nos querem. Essa é a cobrança, insistente e sistemática, aterrando-se no nosso inconsciente.
“Preciso ser bem-sucedida, inteligente, culta, estudada, engraçada, interessante e linda.” Claro, linda. Linda e magra, avassaladora, inebriante, como nos comerciais de perfume. Aquela mulher que todos desejam. Ao mesmo tempo que nos diminuem, nos iludem, nos viciam no modelo da mulher ideal. Aquele modelo que não cabe ninguém. Aquele, sabe? De plástico, que sai nas revistas moldadas no Photoshop, que puxa aqui, aumenta ali, tira aqui, corta lá, criando um modelo irreal. Irreal, diga-se de passagem, significa que não existe. Mesmo. Pois olhem, que coisa, o modelo ideal é irreal.
Pois bem, eu nego. Decreto a partir de agora que esse modelo não me é ideal. Renego o molde. Nego o espaço que me concedem, pois ele não é meu. Minha alma é grande, meu corpo pode ser maior. Crio um novo conceito, abarco um novo espaço. Que o mundo crie espaços que acolham todos os corpos, todos os tamanhos, todas as curvas, todas as paixões. Que se expandam esses espaços.
Abram alas, sociedade, que queremos passar. E, se seus moldes estão pequenos, bem, nós os arrebentaremos. Estouraremos teu gesso, arrombaremos teus centímetros tão milimetricamente calculados. Transbordaremos esses espaços com nossa voz, nossa liberdade, nossa criatividade, nossa energia e nossa força.
Porque somos fortes, sim. Uma mulher que se ama, vixe! Essa mulher pode muito. Tudo podemos na união que nos fortalece. Pois iremos juntas, sim. Mulheres juntas, filho, ninguém segura. Uma porção de mulheres que se encontraram e fizeram as pazes com seus corpos, suas histórias e seus espaços tem uma força ainda desconhecida. O muito pode muito. E nós somos muito. Somos tanto que transbordamos. Entornamos os moldes, abarcamos muito mais. Muito. Mais. Muito.
Cansamos de pedir licença. Cansamos de pedir desculpas.
Sai da frente, sociedade, que estamos passando. Com todos os corpos, todas as almas, todas as vozes, todos os amores. E vocês que se virem pra nos acolher.
*Maria Ribeiro é fotógrafa e idealizadora do livro Nós, Madalenas (São Paulo: Fonte Editorial, 2015).
Muito linda, adorei a revista. Toda! Parabéns!