Por uma sociedade não exclusiva

por Sarita Borelli* e Felipe Sanches**


O ser humano moderno – dito, publicado e consagrado – goza de autonomia, é autossuficiente e carrega consigo a universalidade da razão. O que se conhece por sociedade moderna, agrupamento de pessoas que habita e compreende a Terra no período de tempo e segundo os parâmetros referidos (nunca tenhamos a intenção de precisas datas), em que pese a liturgia da definição que remete à coletividade, à colaboração e à convivência harmônica, reverencia o contrário, ou seja, o que é próprio, individual e exclusivo.

Nessa dinâmica esquizofrênica, a sociedade brasileira, jovem e vigorosa, tem se mostrado uma voraz reprodutora da prática excludente moderna. Em nome da defesa dos interesses da coletividade, os agentes do roto modelo de democracia representativa vigente no Brasil equilibram-se solenemente no fio que separa o antiético do criminoso, agarrando-se a velhas máscaras de autoritarismo – próprias do baile sangrento dançado, no mesmo ritmo, desde a República.

Reformas políticas de exclusão de direitos adquiridos enfeitadas de modernidade são exemplos contemporâneos claros dessa lógica. Outros exemplos são vistos quando nos deparamos com as posições contrárias às políticas afirmativas e, pensando do macro ao micro, uma sociedade em que os seus governantes praticam atos ilícitos em benefício próprio refletem e induzem uma população regida por um ideal oroboro, que é reafirmada por conceitos de meritocracia.

Para romper o ciclo da serpente, a sociedade, munida de sua essência, deve se organizar em torno e por meio de comunidades, tomar a palavra e fazer soar as pautas de suas reais angústias. É necessária a vontade da mudança e um reconhecimento geral das aflições dos excluídos da modernidade que, dessa forma, podem se tornar a carta magna para uma sociedade inclusiva, mesmo que tardiamente. É preciso resistir!

*Sarita Borelli é pós-graduada em Design Editorial pelo Senac, graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, designer, editora responsável pela Editora Gota e idealizadora da Revista Aluvião.

**Felipe Sanches é graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo, poeta, editor de livros didáticos, colaborador de publicações da Editora Gota e coidealizador da Revista Aluvião.

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