Foto: ©Mitya Ivanov on Unsplash.
por Sarita Borelli* e Felipe Sanches**
No dia 28 de outubro de 2018, entre as oito da manhã e às cinco da tarde, 57 milhões, setecentos e noventa e sete mil, oitocentos e quarenta e seis eleitores, mais o próprio, o capitão reformado do exército Jair Messias Bolsonaro, apertaram, nesta ordem, a tecla “1”, a “7” e a “confirma” na urna eletrônica e deram a esse homem o direito de exercer o cargo máximo do poder público executivo no quadriênio 2019-2022. Nada menos do que 55,13% dos votos válidos.
Dias antes, a vereadora carioca Marielle Franco (1979-2018) e o motorista do carro que a transportava, Anderson Pedro Gomes, foram assassinados a tiros. As investigações seguem em ritmo moroso, mas muitas evidências apontam para milicianos, os quais fazem parte de um grupo criminoso que, segundo indícios, tinha relação indireta com o gabinete de um ex-deputado e atual senador[1]. Nada menos que um dos filhos do atual Presidente.
Dias depois, em 25 de janeiro de 2019, em Brumadinho (MG), 245 pessoas morreram e 25 continuam desaparecidas como consequência do rompimento da barragem na mina Córrego do Feijão. A mineradora Vale, privatizada em 6 de maio de 1997[2], negligenciou o risco do rompimento, que atingiu as áreas administrativas e o refeitório e vitimou majoritariamente seus próprios funcionários e prestadores de serviço, configurando um crime trabalhista e uma tragédia humana de grandes proporções. Quase quatro anos antes, em 5 de novembro de 2015, ocorria um desastre ambiental sem precedentes no Brasil, também em Minas Gerais, o rompimento da barragem de Mariana[3]. A administração da barragem era feita pela Samarco, uma subsidiária da Vale. Ambientalistas e pesquisadores acreditam que os danos ambientais causados pelos rejeitos de minérios perdurem por um século.
Dias depois, entre 29 e 31 de julho de 2019, 62 homens que estavam presos no Centro de Recuperação Regional de Altamira (PA) morreram de forma bárbara em decorrência de uma rebelião motivada por disputas de poder entre facções criminosas. Ao ser indagado sobre o fato, pois não houve um pronunciamento voluntário, o presidente em exercício transformou as vítimas em culpadas da sua sorte.[4]
Ferindo – com as suas declarações – os direitos humanos[5], com um Ministério do Trabalho extinto[6], com um Ministro do Meio Ambiente que não conhece Chico Mendes[7], com um Ministro das Relações Exteriores antiglobalista, com cortes no orçamento no Ministério da Cidadania e no da Educação[8], resta a dúvida: dias como esses; tantos fatos mais… Quantos dias mais?
*Sarita Borelli é pós-graduada em Design Editorial pelo Senac, graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, designer, editora responsável pela Editora Gota e idealizadora da Revista Aluvião.
**Felipe Sanches é graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo, poeta, editor de livros didáticos, colaborador de publicações da Editora Gota e coidealizador da Revista Aluvião.
[1] Ver mais em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/22/politica/1548165508_401944.html. Acesso em: ago. 2019.
[2] Ver mais em: https://www.brasildefato.com.br/2017/05/07/venda-da-vale-completa-20-anos-e-foi-um-dos-maiores-crimes-cometidos-contra-o-brasil/. Acesso em: ago. 2019.
[3] Ver mais em: http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/11/barragem-de-rejeitos-se-rompe-em-distrito-de-mariana.html. Acesso em: ago. 2019.
[4] Ver mais em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/07/pergunta-para-as-vitimas-que-morreram-o-que-eles-acham-diz-bolsonaro-sobre-massacre-no-para.shtml. Acesso em: ago. 2019.
[5] Ver mais em: https://anistia.org.br/noticias/discurso-da-administracao-de-bolsonaro-contra-direitos-humanos-comeca-se-concretizar-em-medidas-nos-primeiros-meses-de-governo/. Acesso em: ago. 2019.
[6] Ver mais em: https://folhadirigida.com.br/noticias/concurso/especial/bolsonaro-extingue-ministerio-do-trabalho-e-e-alvo-de-acao-no-stf. Acesso em: ago. 2019.
[7] Ver mais em: https://exame.abril.com.br/brasil/que-diferenca-faz-quem-e-chico-mendes-diz-ricardo-salles-no-roda-viva/. Acesso em: ago. 2019.
[8] Ver mais em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/07/novo-bloqueio-do-orcamento-atinge-r-348-milhoes-da-educacao.shtml. Acesso em: ago. 2019.